Este cântico completamente novo, que só será cantado no reino de Deus pelas virgens (Ap 14, 3-4), Maria, ela, a rainha das virgens, o cantará com todas as outras, ou melhor, a primeira de todas, e não haverá ninguém que irá duvidar. Acredito mesmo, que além deste cântico reservado apenas às virgens, e que ela executará em coro com todas as outras (como acabo de dizer), Maria deleitará a cidade de Deus com um canto ainda mais suave e delicioso, o qual nenhuma virgem não se achará digna de modular ou imitar seus acordes harmoniosos; ele será reservado à virgem que, ela só, teve a honra de ser mãe e mãe de Deus.
Uma mãe dotada de tais qualidades, que Deus sabia digna dele…
Se ela se glorifica de sua maternidade, não é nela mesma, mas naquele que ela fez vir ao mundo: Deus, em verdade – ele é Deus, aquele que ela deu à luz -, que dotará sua mãe de uma glória sem igual nos céus, teve o cuidado de conceder-lhe desde aqui na terra de uma graça sem par, e esta graça lhe permitiu de unir inefavelmente concepção e virgindade, parto e integridade. Certamente, o único nascimento digno de Deus seria o de nascer de uma virgem, e o único parto que poderia convir a uma virgem seria o de dar à luz a Deus. Também o Criador dos homens, que para fazer-se homem quis nascer do homem, teve que escolher, ou melhor, criar, entre todas as outras, uma mãe dotada de tais qualidades que ele sabia digna dele, e a reconheceu capaz de agradá-lo.
Ele quis, para isso, que ela fosse virgem, a fim de nascer imaculado dessa imaculada, ele que viria purificar as máculas de todos os homens; da mesma forma, ele a queria humilde, para nascer dela manso e humilde de coração, ele que viria dar dessas duas virtudes em si próprio, o exemplo necessário e salutar. Ele então concedeu à Virgem de dar à luz, depois de ter-lhe já inspirado o voto de virgindade e ter-lhe privilegiado do mérito da humildade. De outra maneira, como o anjo, pouco depois, teria podido saudá-la “cheia de graça”, se houvesse nela algum bem que não tivesse vindo da graça?