Ouidah: Poema de Maria, após a escravidão

Poema de Maria, após a escravidão

Mãe amável ... a noite foi longa e dura ...

Teus filhos negros chegaram tarde. Eles estão ansiosos, solícitos e cheios de zelo para participar do concerto dos povos, que se eleva, desta terra de exílio em direção a ti, ó doce mãe de Jesus.

 

Ó mãe tão afável, a noite foi longa e difícil, penoso e longo o sono de teus Negros.... Os outros... amigos ou inimigos, vindos de longe, falavam de teus filhos negros. E teus filhos negros ouviam sem nada entender. Que pesadelo, quando eles, teus filhos negros, compreenderam, que eram testemunhas... dos problemas que lhes diziam respeito! Seu destino estava sendo determinado e discutido... Eles eram testemunhas aflitas e caladas, embora tivessem algo a dizer, uma palavra, uma contestação a ser reinvidicada, uma possição a ser tomada, pessoalmente! Mãe amável, não é verdade que se tratava de um mistério desconcertante e humilhante para teus filhos negros? A noite foi dura e longa...

Foi o Espírito a dizer: "Teus filhos negros pertencem à família"

Porém, de colina em colina, as perdizes anunciaram o nascimento do dia ... De aldeia em aldeia, rompendo o silêncio da noite lânguida, morrente, os galos cantaram um novo dia. Glória de Jerusalém, alegria de Israel, tu és a glória e a alegria de teus filhos negros.

 

Porque o Espírito disse, e disse uma vez por todas; "teus filhos negros, unidos a todos os outros povos, não são nem hóspedes nem estranhos ou estrangeiros na casa de Deus. Eles são concidadãos dos santos e pertencem à família do Senhor".

 

És, então, a glória de teus filhos negros, és a alegria deles, ó doce Mãe de Jesus. Teus filhos negros correm para exaltar-te e retomam, em multidão, o clamor de todas as gerações:

 

Tu és bendita entre as mulheres!

 

E bendito é o fruto do teu ventre!

 

Bendita és tu, tu que creste!

 

Para honrar-te, teus filhos negros esculpiram uma imagem em madeira e em ébano, ébano negro e compacto ... Para venerar-te, teus negros filhos esculpiram tua imagem branca, com o marfim do elefante. As duas imagens podem ser negras ou brancas, sem qualquer problema. Elas não estão falando de um mundo espiritual, sobrenatural? Do mundo do qual tu és a rainha, o mundo das almas, das almas apaixonadas por Deus, todas purpurejadas, sem discriminação, pelo sangue do Cordeiro...

 

Possam os louvores que tecemos a ti não mais abandonarem os corações nem os lábios de teus filhos negros, mas que se estendam, como a manhã triunfal, avançando em direção aos ilimitados espaços dos céus.

Faze com que sejamos sensíveis a Deus, ensina-nos ...

Mãe do bom conselho, ilumina-nos, tornando-nos cada vez mais sensíveis ao sobrenatural, mais sensíveis a Deus. Dize-nos que todos os acontecimentos da terra têm valor, e que existem soluções que vão muito além da dimensão terrestre, Mãe da divina graça, para que Jesus nos chegue através de ti! Jesus, luz infalível, indefectível dos povos, dia sem declínio das nações ... Virgem Mãe, olha para nós para nos amar e nos socorrer ...

 

Ó tu, que és um gigante sobre os caminhos do amor, espera por nós na estrada, atraindo-nos, arrebatando-nos, conduzindo-nos. Porque somos fracos, cheios de temores, porque ignoramos, sempre, e tergiversamos. Lembra-te, tu és a nossa grande Irmã... És paciente, porque os irmãozinhos e irmãnzinhas chegarão, em seguida. Lembra-te, tu és a Mãe amorosa ... Estás sempre atenta, ciosa, porque teus filhos tentam caminhar, amada Irmã, Mãe queridíssima, espera por nós, atrai-nos, leva-nos, defende-nos, reza, roga por nós.

Tu não és a música virginal da festa do céu?

És a convergência, o ponto de encontro de todos os olhares, de todos os corações, reunindo-nos dos quatros cantos da Terra. Mãe querida, és o refúgio de todos os corações.. Reuni-nos, para que possamos viver, como irmãos, na ternura maternal.

As vísceras se emocionam e vibram quando chegam os gongos e os cantos da dança, quando se misturam os alegres clamores da celebração. Não és tu a melodia suave, a música virginal da festa do Céu? Virgem fiel, mantém-nos puros ... revive em nós a fome das alegrias inacessíveis ...

 

És bela e resplendente como a manhã, renovada incessantemente em sua juventude e em seu frescor... És bela e alegre como um campo de café sob a aurora, um campo florido e perfumado... És bela e fascinante como a madeira da palmeira a ondular sob o céu límpido e azul. És linda e encantadora, como uma fonte clara a correr entre as rochas. És bela e e graciosa como a lua a mover-se pelo céu límpido, lavado pela tempestade. És bela e esplêndida, deslumbrante como uma chama que se ergue, majestosa, dentro da noite da savana... És linda, lindíssima, tão bela que, quem te viu, uma única vez, morreria para te rever. Maravilha das maravilhas de Deus, tu és a Mãe de todos nós. Negros e brancos, amarelos e vermelhos, reuni todos nós, dos quatro cantos da Terra, e faze-nos adentrar a festa fraternal da verdade, da justiça e da caridade viva ...

 

 

Soberana universal, leva-nos às núpcias eternas onde tu és, doravante, a Mulher a quem louvamos, a quem cantamos, a Virgem Mãe de Jesus. "

 

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Jacques Amoussou, Le culte de Marie dans la spiritualité africaine au Dahomey en Afrique noire, Grand Séminaire Saint Gall, Oudiah 1974, (O culto de Maria na espiritualidade Africano do Daomé na África negra, Grande Seminário St. Gallen), Oudiah 1974, pp. 55-57), nossa tradução, a partir de Attilio Galli, Madre della Chiesa dei Cinque continente (Mãe da Igrej dos Cinco Continentes), Ed. Segno, Udine, 1997, pp.609-623